Quase ficção

 Pode um clube ter na sua história capítulos tão distintos, e curiosos, como um estádio que virou cemitério, jogadores trocados por túmulos, ter sido personagem de um livro de ficção de um dos mais importantes escritores brasileiros e, pra terminar, um confronto histórico contra um dos maiores esquadrões que o futebol mundial já conheceu.

A resposta é: pode! Apesar de pouco conhecido dos torcedores do Vale, o Cruzeiro (RS), adversário da estreia do Metropolitano na Série D do Brasileiro, neste sábado, às 15h, em Porto Alegre, é um clube rico em histórias curiosas e um dos mais tradicionais do Rio Grande do Sul. Aos 98 anos (o Metrô tem nove), o rival tem um passado incrível e tenta nos dias atuais retomar os tempos de glória.


O Cruzeiro foi pioneiro no trabalho com as categorias de base e contratar jogadores estrangeiros no futebol gaúcho, entre outros feitos, como o título estadual de 1929. Mas nenhum feito supera a história do antigo Estádio da Montanha. Com capacidade para 20 mil torcedores, foi inaugurado em março de 1941 e era chamado pela torcida de Colina Melancólica. Teria sido o primeiro do Rio Grande do Sul a ter túnel de acesso dos vestiários ao gramado.

No currículo, um empate com o Real Madrid de Di Stéfano


Só que três décadas mais tarde, o estádio fechou as portas. A direção do clube o vendeu para a construção do Cemitério Ecumênico João XXIII, no bairro Medianeira. O último jogo ocorreu no dia 8 de novembro de 1970, com vitória do Cruzeiro por 3 a 2 sobre o Liverpool, do Uruguai. Até hoje existe uma parte da arquibancada no cemitério. Reza a lenda que alguns jogadores contratados pelo clube tinham entre as garantias jazigos no cemitério.
As curiosas histórias do clube não param por aí. Assim como o Metropolitano (em 2007), o time estrelado (como é chamado pela torcida) também já excursionou pela Europa e conquistou títulos por lá. Numa dessas andanças pelo Velho Continente, em 1953, o Cruzeirinho (outro apelido do clube) conquistou um grande feito: empatou com o Real Madrid, em pleno Santiago Bernabéu, no ano em que craque argentino Alberto Di Stéfano chegava ao clube onde viria a se tornar pentacampeão europeu (entre 1956 e 1960) e um dos principais nomes da história do futebol.
Anos mais tarde, em 1960, o time gaúcho voltou a escrever um capítulo vitorioso da história, faturando o Torneio de Páscoa de Berlim, um dos mais importantes da época. Tanto que, fora o Cruzeiro, apenas um clube estrangeiro havia vencido o torneio anteriormente: o poderoso Real Madrid.
TORCIDA ILUSTRE
O torcedor mais ilustre do Cruzeiro é o escritor Moacyr Scliar, que faleceu em fevereiro. Scliar eternizou a paixão pelo time no romance A colina dos suspiros (detalhe). No livro, ele conta parte da história do time do coração com o fictício Pau Seco Futebol Clube, que à beira da falência, teve de ceder o estádio para que fosse construído um monumental cemitério.
98 ANOS DE MUITA HISTÓRIA
- Foi o primeiro clube gaúcho a criar as categorias inferiores: juvenil e infanto-juvenil.
- Foi quem sugeriu à Liga de Futebol Porto-alegrense que fosse organizado um campeonato só para jovens.
- Em 1917, propôs que fosse regulamentada a entrada de estrangeiros nos clube gaúchos.
- Em 1929, sagrou-se campeão estadual, com um time formado na quase totalidade por alunos universitários e estudantes da Escola Militar de Porto Alegre.
- Em 1941, inaugurou o Estádio da Montanha, com capacidade para 20 mil torcedores. Chamado de Colina Melancólica, o estádio foi o primeiro do Rio Grande do Sul a ter túnel de acesso dos vestiários ao gramado.
- Em 1945, foi o primeiro clube gaúcho a contratar um técnico estrangeiro, com o húngaro Emmerich Hirsch.
- Em 1953, foi o primeiro clube brasileiro a jogar no Estado de Israel.
- Em 1960, foi o primeiro clube gaúcho a conquistar um título intercontinental, faturando o Torneio da Pascoa de Berlim, considerado um dos mais importantes da época.
- Em 1961, conquistou o segundo título internacional, sagrando-se campeão do 1º Torneio de Páscoa de Mar del Plata, na Argentina.
- Em 2007, o clube iniciou um novo projeto no futebol, com a valorização das categorias de base.
- Em 2008, foi vice-campeão gaúcho de Juniores, revelando jogadores como o volante Diguinho e o atacante Rafael Sobis, ambos atualmente no Fluminense.
- Em 2010, com a base do time vice estadual júnior, o Cruzeiro conquistou a Segundona do Campeonato Gaúcho e voltou à elite depois de 38 anos.
- No último Gauchão, brilhou vencendo duas vezes o campeão Inter (eliminou o colorado no turno, em pleno Beira-Rio), e uma vez o Grêmio. Terminou em quarto lugar.FONTE:Jornal SC


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